Cientistas americanos anunciaram ontem um importante avanço na busca por um método de prevenção da aids para mulheres, com uma substância que bloqueia a transmissão do HIV pelo ato sexual. O produto foi usado com sucesso em macacos e, apesar de ainda não ter sido testado em humanos, cria uma expectativa promissora de que as mulheres venham a ter um método prático e seguro de proteção anti-aids. Algo como uma pomada que poderia ser carregada na bolsa, tal como o homem carrega o preservativo na carteira.
A substância é a versão fortificada de uma proteína humana, chamada PSC-RANTES. Dentro do trato vaginal, ela se prende às moléculas receptoras que o vírus da aids normalmente utiliza para penetrar nas células. Dessa forma, funciona como uma trava de fechadura, bloqueando a infecção. "O vírus é como um parasita intracelular, que depende de entrar na célula para se replicar", explica o especialista Michael Lederman, autor principal do estudo na Case Western University, em Ohio. A proteína foi modificada em laboratório para se tornar mais eficiente e garantir maior proteção. "Ela se acopla ao receptor e o vira para dentro da célula, tornando-o indisponível para o vírus."
Os testes foram realizados em 30 fêmeas adultas de macacos resus, que foram divididas em grupos e receberam doses diferentes da molécula. Cerca de 15 minutos após a aplicação da substância no órgão sexual, as macacas foram expostas a altas concentrações de uma forma híbrida do vírus da aids, chamada SHIV, que combina a parte externa do HIV e a parte interna do SIV, a versão símia do vírus.
Os animais foram inclusive tratados previamente com progesterona, de forma a facilitar o processo de infecção. Ainda assim, os resultados foram positivos: das cinco macacas tratadas com a dose mais elevada de PSC-RANTES, nenhuma contraiu a doença. A segunda dose mais forte protegeu quatro das cinco fêmeas e a terceira, três das cinco, segundo o estudo publicado hoje na revista Science.
Lederman deixa claro que, apesar de muito promissores, os resultados ainda precisam ser confirmados em seres humanos, o que levará, no mínimo, mais alguns anos. Ainda assim, não deixa de ser uma esperança para reduzir o avanço da epidemia. A infecção por via sexual é a forma mais comum de transmissão da aids, especialmente em relações heterossexuais. Ela ocorre pelo simples contato das mucosas dos órgãos sexuais, mesmo quando não há ejaculação ou sangramento.
Fonte: Jornal Estado de São Paulo
15/10/04