arquivo-noticias - Unimed Goiânia

Novas armas contra a artrite reumatóide






Quem tem reumatismo, sabe muito bem onde o calo aperta. Dentre as mais de cem tipos catalogados pela medicina daquele tipo de enfermidade, a artrite reumatóide é um dos mais sérios, podendo provocar a incapacitação física e a morte prematura. Nada menos que 1% da população brasileira, ou cerca de 18 milhões - se se for tomar em conta os dados do último censo do IBGE, realizado em 2000- sofrem desse mal.

Com a aumento da expectativa de vida em todo o mundo (as pessoas estão vivendo mais), muito embora a doença não seja exclusiva dos idosos, os cientistas e laboratórios médicos intensificaram as pesquisas para tentar amenizar as dores intensas provocadas pela artrite reumatóide, a AR, e garantir a melhora da qualidade de vida dos pacientes.

Durante o 25º Congresso Brasileiro de Reumatologia, realizado na segunda semana de outubro, no Rio de Janeiro, foram debatidos alguns avanços promissores que facilitam um diagnóstico precoce da AR e novos medicamentos que apontam para uma possível interrupção da progressão da enfermidade.

A artrite reumatóide é uma doença caracterizada pela inflamação freqüente das juntas. Esta reação é provocada pelo aumento da produção de um líquido, chamado sinoval, nas juntas, principalmente nos dedos das mão, dos pés, nos punhos, ombros e cotovelos.

"Se você sente dor articular há mais de seis semanas, acompanhada de outros sintomas como inchaço, vermelhidão e calor nas juntas, há uma possibilidade de ter artrite reumatóide", alerta Fernando Cavalcanti, reumatologista e presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia - SBR.

O especialista alerta que se o problema não for tratado a tempo e com o devido cuidado pode levar à destruição das articulações. "A artrite reumatóide é incapacitante. Por isso, a prevenção é a melhor arma para que o indivíduo não perca a mobilidade das articulações e a sua capacidade produtiva", assinala o reumatologista.

Progressão

O diagnóstico tardio tem sido uma das grandes causas da progressão incapacitadora da doença. Segundo as estatísticas, dez por cento das pessoas portadoras de AR tornam-se gravemente deficientes depois de 20 anos com a enfermidade. "Boa parte das pessoas tentam se tratar sozinhas, tomando antiinflamatórios e, em média, segundo um levantamento feito com 500 pessoas, levam até 4 anos e meio entre o início dos sintomas até ser diagnosticado", revela Caio Moreira, reumatologista e ex-presidente da SBR.

O dr. Fernando Cavalcanti lembra o caso clássico da atriz norte-americana Kathleen Turner (dos filmes Mamãe é de Morte, A Jóia do Nilo e A Guerra dos Roses ), que só foi atrás de um diagnóstico dois anos depois de sentir os sintomas. "Se uma atriz famosa num país como os Estados Unidos demorou tanto, imagine no Brasil onde as informações sobre a doença são mais difíceis", argumenta o dr. Cavalcanti.

O presidente da SBR lembra ainda que o tratamento da doença é muito caro. Segundo ele, somente três ou quatro remédios mais eficientes - os mais caros - estão na rede pública de saúde. Mas, ainda assim deficitariamente. "Não existem remédios para os pacientes com AR, nem os mais baratos", lamenta. Por isso, ele sugere que os doente façam pressão: "Tem que haver um grupo de pressão dos reumáticos. Só assim, eles podem conseguir os medicamentos", conclui.

Em busca do controle do mal

Não existe cura para a artrite reumatóide e as dores nas juntas tendem a aumentar com o tempo, mortificando o paciente e deixando-o, depois de muito tempo, praticamente inútil. Por isso, as novidades apresentadas durante o 25º Congresso Brasileiro de Reumatologista são importantes, tanto para o controle da doença, quanto para o seu diagnóstico precoce.

A medida para a detecção da artrite reumatóide está no sangue. É nele que viajam os anticorpos em excesso no corpo humano que podem causar as inflamações nas juntas. Por isso, é que os médicos festejam a chegada de um novo exame de sangue, o ANTI-CCP, que pode detectar a presença daqueles anticorpos mais precocemente e ajudar a impedir que a doença se torne mais séria ainda.

"Este tipo de exame mal chegou ao Brasil, mas é, com certeza, o mais eficiente e o mais específico para ajudar a descobrir a presença da doença nas pessoas", afirma geraldo Castelas, professor de Reumatologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

Mas, a novidade medicamentosa que mais tem chamado a atenção dos especialistas é o tratamento à base de agentes biológicos, que ajudam a inibir o chamado fator de necrose tumoral - TNF. Este fator é a substância que estimula a inflamação das juntas.

Estes novos medicamentos são uma alternativa aos tratamentos mais comuns e às chamadas drogas tradicionais anti-reumáticas modificadoras de Doenças, entre elas o metotrexato - o top entre eles. Os agentes biológicos são indicados principalmente para quem não reage àquelas drogas e que têm a artrite reumatóide em estado avançado e em casos com alguma gravidade.

O Laboratório Abbott desenvolveu um agente biológico, o Humira, que é o primeiro anticorpo monoclonal totalmente humano e que bloqueia o fator de necrose tumoral. Esse anticorpos são cópias exatas de proteínas existentes no corpo humano, o que faz com que o sistema imunológico do ser humano não as diferencie daquelas que já existem no corpo, facilitando sua ação para impedir a inflamação típica da artrite reumatóide.

"Com este medicamento estamos ajudando a modificar significativamente o curso de uma doença grave. Muitos dos pacientes que foram tratados com o Humira retomaram algumas atividades básicas, como pentear o cabelo, escovar os dentes", garante Martha Penna, diretora da Divisão Farmacêutica do Abbott Laboratórios do Brasil.

O medicamento é visto como um possível interruptor da progressão da doença. Ou seja, está sendo estudado se, além de controlar a infecção, ele pode impedir que a doença evolua.

"Os anticorpos monoclonais são um grande avanço tecnológico para o tratamento de várias enfermidades, inclusive a artrite reumática. Não é a cura. É mais um remédio potente que pode ajudar garantir uma melhora da qualidade de vida do paciente", argumenta a dra. Martha Penna.

Outros medicamentos novos estão sendo vendidos no Brasil como o Enbrel (gravado erroneamente em nossa matéria publicada em 14/10/04, como Embrel), do Laboratório Wyeth, ao contrário do que foi dito na reportagem, que não é um anticorpo anti TNF.

Este remédio é um receptor do fator de necrose tumoral (TNF) humano solúvel que contribui para inibir a progressão dos danos estruturais articulares de pacientes com artrite reumatóide, com atividade moderada ou grave. O Enbrel pode ser usado como monoterapia para tratar a enfermidade com resultados eficientes.

O reumatologista Sebastião Radominski, cita também como outro medicamento anti TNF no mercado o Remicale.

Fonte: Jornal de Brasília
20/10/04

${loading}