O mundo está ameaçado por uma nova pandemia da gripe de frango e, infelizmente, ele não está preparado para combatê-la, advertiu, na segunda-feira, um funcionário da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante um congresso em Miami (EUA). "Podemos avaliar que o risco é elevado, apesar de não sabermos o quanto", disse David Heymann, responsável pelo departamento de doenças contagiosas da OMS. "O mundo não está preparado para combatê-la", acrescentou. Heyman disse que as atuais 300 milhões de vacinas contra a doença não são suficientes.
Os riscos da propagação da gripe do frango aumentaram depois que milhões de frangos na Tailândia e no Vietnã foram contagiados e tiveram de ser mortos. Heyman disse também que é pouco provável o ressurgimento da Sars (síndrome respiratória aguda grave) que matou centenas de pessoas na Ásia em 2002 e 2003. Vários especialistas da saúde e fabricantes farmacêuticos devem reunir-se em Gênova (Itália) esta semana para discutir meios para lutar contra uma possível pandemia.
Negócios
A epidemia da gripe do frango, no sudeste da Ásia, colocou o Brasil como um dos maiores exportadores de carne da ave à região. As remessas do produto para o Japão, o principal atacadista asiático, cresceram 129% entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período de 2003.
A epidemia já rendeu R$ 326,5 milhões aos produtores brasileiros que exportaram ao Japão nos oito primeiros meses de 2004. O Paraná, o maior produtor nacional de carne de frango, exportou 26,5% do faturamento (R$ 86,7 milhões), segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep). Hong Kong, o segundo maior distribuidor local, também aumentou suas importações da ave brasileira. A elevação foi de 42%. A ilha capitalista sob domínio chinês gastou R$ 95 milhões neste ano - R$ 66 milhões de janeiro a agosto do ano passado. Japão e Hong Kong eram tradicionais clientes da Tailândia, país com um dos mais graves focos da doença, chamada também de influenza aviária.
A gripe do frango surgiu em dezembro do ano passado, o que obrigou os produtores asiáticos a sacrifícios em massa em seus aviários. Entre o final de 2003 e setembro deste ano, 29 pessoas morreram em contato com aves contaminadas. Missões de empresários japoneses começaram a vir ao Brasil, no começo do ano, para conhecer a estrutura das granjas. Voltaram convencidos de que poderiam suprir seus mercados com a carne brasileira.
A demanda asiática por carne de frango promoveu alterações em outro ranking: o dos maiores compradores continentais do produto brasileiro. O Oriente Médio permanece em primeiro, mas o sudeste da Ásia, que era o quinto maior comprador do produto, agora já está em segundo lugar. A China continental também teve incremento na importação de carne de frango após a epidemia. Comprou cerca de R$ 500 mil do produto entre janeiro e agosto de 2003 e R$ 16 milhões nos mesmos meses deste ano - ou seja, as exportações brasileiras cresceram 2.949%.
Doença é mortal para seres humanos
Na epidemia de 1997, todas os infectados conviviam com os animais em mercados ou fazendas
A gripe do frango foi identificada pela primeira vez na Itália, há cerca de cem anos. Acreditava-se que a doença só infectava aves, até que os primeiros casos humanos foram detectados em Hong Kong, em 1997. Na época, todas as aves - em torno de 1,5 milhão - foram mortas em três dias. Especialistas acreditam que a medida foi decisiva para conter a epidemia.
Apesar do nome, todas as aves são suscetíveis à doença, mas algumas espécies, como patos, são mais resistentes. Aves como frangos e perus são particularmente vulneráveis. Eventualmente, porcos também podem ser infectados.
Pessoas pegam a doença por meio de contato direto com aves vivas infectadas. O vírus está presente nas fezes das aves, que secam e são pulverizadas, e depois podem ser inaladas. O vírus consegue sobreviver por um longo período nos tecidos e nas fezes das aves mortas, particularmente sob baixas temperaturas.
Na epidemia de 1997, todas as 18 pessoas infectadas conviviam com os animais em mercados ou fazendas.
Os sintomas são similares aos de outros tipos de gripe: febre, mal-estar, tosse e dor de garganta. Também já foram registrados casos de conjuntivite. Nos pacientes que morreram, a doença estava se tornando uma pneumonia viral.
Variações
Existem 15 diferentes variações do vírus, mas é o chamado de H5N1 que infecta os humanos e pode causar a morte. Mesmo dentre este tipo, variações foram encontradas nos países em que foi registrado. Os vírus analisados hoje também são diferentes dos tipos vistos no passado.
A gripe do frango tem apontado uma taxa de mortalidade elevada em humanos. Em 1997, seis das 18 pessoas infectadas morreram. Um outro problema identificado: o vírus pode sofrer mutações rápidas e infectar outros animais.
Não há evidências de que a doença seja transmissível entre humanos. A melhor maneira de evitar a doença é não ter contato com frangos em áreas onde casos já tenham sido registrados.
Há receios de que o H5N1 possa se ligar a um vírus da gripe humana, criando, desse modo, um novo vírus que poderia ser passado de uma pessoa para outra. Isso poderia ocorrer caso uma pessoa estivesse infectada com a gripe do frango e a humana, ao mesmo tempo. Quanto mais essa dupla infecção ocorrer, maior a chance de que se desenvolva uma mutação.
Fonte: Jornal de Brasília
10/11/04