A maioria das pessoas que vivem em regiões nas quais a hanseníase é endêmica já estiveram expostas ao bacilo Mycobacyterium leprae, mas apenas algumas delas desenvolveram a doença. Por isso, já há algum tempo considerava-se provável que fatores genéticos fossem responsáveis pela resistência ou suscetibilidade à moléstia.
Uma pesquisa que reuniu cientistas canadenses, brasileiros, vietnamitas, franceses e holandeses mostrou que polimorfismos em uma região específica do cromossomo 6 estão ligados a uma maior suscetibilidade para a hanseníase.
Os resultados do estudo, que teve a participação da Fiocruz, foram publicados na revista Nature, causando grande repercussão na comunidade científica internacional. "É a primeira vez que são identificadas variantes genéticas com função importante em uma doença infecciosa", diz o biólogo Milton Moraes, do laboratório de Hanseníase da Fiocruz.
Pesquisa
A pesquisa foi realizada com famílias vietnamitas e brasileiras. O objetivo era descobrir polimorfismos de nucleotídeo único (ou SNPs, sigla em inglês) que fossem comuns nas famílias estudadas e que pudessem, portanto, estar relacionadas à doença. Cada gene é formado por milhares de letras químicas, os nucleotídeos; o SNP é a mudança de apenas uma dessas letras.
Os resultados apresentados tiveram alguns pontos em comum. "O fato de os mesmos resultados terem sido obtidos em duas populações com origens étnicas tão diferentes nos permite classificar essas variações genéticas como fatores de risco comuns para a hanseníase", explica Moraes.
Esse tipo de estudo inaugura a possibilidade da aplicação dos testes genéticos como ferramentas de suporte ao diagnóstico e prognóstico de doenças infecciosas. "A maior importância dessa descoberta na prática será a possibilidade de fazermos prognósticos mais exatos", comemora Moraes.
Atualmente, a hanseníase é uma doença curável pela combinação de três medicamentos, mas quando não é tratada pode causar graves deformidades que geram um estigma para os doentes. Por isso, é importante que a população saiba identificar os sintomas da doença e que ao primeiro sinal - manchas na pele com perda de sensibilidade no local - procure um posto de saúde para iniciar o tratamento. Parentes de doentes e pessoas que vivem em zonas endêmicas devem tomar a segunda dose da vacina BCG, que protege contra as formas mais graves da hanseníase. "Estamos escrevendo um livro com uma história em quadrinhos que tem o objetivo de alertar as crianças sobre os sintomas, além de explicar um pouco como funciona a resposta imune de nosso organismo a agentes infecciosos", diz Moraes.
Transmissão
A forma de transmissão é desconhecida, mas acredita-se que o bacilo seja transmitido principalmente pelas secreções do trato respiratório de doentes. Utensílios como talheres e lençóis também poderiam passar a doença. Por isso, fatores ambientais podem influenciar a sua propagação. "Um saneamento deficiente diminui a higiene e aumenta o contato das pessoas com as bactérias. A maior parte das doenças infecciosas foi controlada com medidas sanitárias", alerta Milton.
Fonte: Fundação Oswaldo Cruz
10/11/04