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Antiinflamatório Bextra traz risco de problemas cardíacos, diz estudo






Um estudo apresentado na terça-feira em encontro da Associação Americana do Coração, em New Orleans (EUA), revela que o antiinflamatório Bextra, da Pfizer, vendido no Brasil desde o ano passado, oferece riscos de problemas cardíacos a seus usuários. No estudo, pacientes que receberam o medicamento tiveram mais que o dobro de ataques cardíacos e derrames do que pacientes que utilizaram placebos.

Em setembro, a revelação de uma outra pesquisa culminou com a retirada do mercado do antiinflamatório Vioxx, da Merck, por apresentar riscos de problemas cardíacos em pacientes que faziam uso contínuo do remédio.

O estudo com o Bextra, que reuniu dados de 5.930 pacientes, concluiu que os que tomaram Bextra tiveram 2,19 vezes mais chances de ataques cardíacos ou derrames do que aqueles que usaram apenas placebos. "A magnitude dos resultados do estudo com o Bextra é ainda maior que a apresentada com o Vioxx", disse Garret A. FitzGerald, cardiologista e farmacologista da Universidade da Pensilvânia, coordenador do estudo. "Isto é uma bomba-relógio esperando para explodir."

Em nota oficial, a Pfizer contesta as informações e alega que o estudo em questão não foi publicado em nenhum jornal médico. Susan Bro, porta-voz da Pfizer, afirmou que um problema cardíaco ligado ao Bextra só apareceu em estudos envolvendo pacientes com risco muito alto de doenças do gênero e que foi divulgado pela empresa em outubro. Outros estudos com Bextra, envolvendo 8 mil pacientes com artrite, acompanhados por 6 a 52 semanas, não teriam detectado problemas cardíacos, disse a porta-voz.

FitzGerald é um dos principais especialistas em drogas COX-2, uma classe de medicamentos que inclui Vioxx, Bextra e Celebrex, também fabricado pela Pfizer. O Vioxx teve vendas de US$ 2,5 bilhões no ano passado; o Celebrex, de US$ 1,8 bilhão; e o Bextra, de US$ 687 milhões. A Pfizer não quis divulgar ontem quanto o medicamento, lançado no exterior em 2001, vende no País.

DESCOBERTAS

Em estudos anteriores, FitzGerald foi um dos primeiros a explicar por que as drogas COX-2, desenvolvidas para combater a dor sem provocar úlceras, podem causar problemas cardíacos.

FitzGerald disse que as últimas descobertas aumentaram a preocupação com os inibidores COX-2, como Bextra e Celebrex, que devem então ser usados com cautela. A Pfizer afirmou não haver evidências de que o Celebrex cause problemas parecidos.

Curt Furberg, professor de Ciências de Saúde Pública na Escola de Medicina da Universidade de Wake Forest, ajudou a conduzir o estudo de FitzGerald. "Basicamente, mostramos que o Bextra não é diferente do Vioxx, e a Pfizer está tentando ocultar esta informação", disse Furberg.

O estudo de FitzGerald não foi a única notícia negativa relacionada ao Bextra. Também foi divulgado na terça-feira um documento do último dia 5 em que a agência federal americana de controle de alimentos e medicamentos (FDA) rejeitava um pedido da Pfizer para o uso do Bextra no tratamento da enxaqueca. A companhia afirmou ter sido notificada sobre a recusa em agosto.

As ações da Pfizer caíram US$ 0,25 na terça-feira, fechando em US$ 25,99. Elas haviam caído US$ 0,38 na véspera, enquanto os investidores digeriam o anúncio da companhia de que provavelmente adicionaria um aviso de tarja preta ao rótulo do Bextra. O aviso diria que, em raras situações, a droga poderia causar erupções de pele fatais.

Em seu aviso de 15 de outubro sobre os potenciais riscos do Bextra para pacientes depois de cirurgia cardíaca, a Pfizer admitiu que conhecia os resultados desse estudo havia pelo menos dois meses.

Durante esse período, representantes da Pfizer disseram publicamente que a companhia não conhecia evidências de que o Celebrex ou o Bextra provocassem o tipo de problemas cardíacos encontrado num grande estudo do Vioxx.

ALTERNATIVA

A apresentação do estudo americano preocupa o diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Carlos Serrano. "Se ficar comprovado o aumento da incidência de ataques cardíacos por causa do Bextra, os médicos terão de suspendê-lo até que novas pesquisas esclareçam qualquer dúvida existente", diz o cardiologista.

Para Serrano, os medicamentos da categoria de inibidores de COX-2 são bons antiinflamatórios para pacientes crônicos por não apresentarem efeitos colaterais. "Quem perde são os pacientes de uso contínuo", alerta. Segundo Serrano, não existem substitutos para esses remédios, restando apenas os inibidores de COX-1, que provocam problemas gástricos e renais.

Fonte: Jornal O Estado de São Paulo
11/11/04

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