Muitos casos de depressão são mal diagnosticados

O que é depressão?

Depressão é um problema de saúde sério, muitas vezes confundido com tristeza ou fraqueza de caráter. Os sintomas da depressão são, muitas vezes, erroneamente vistos como resultado do stress ou tristeza. O humor depressivo, diferente da tristeza, é autônomo, não depende de algum evento desencadeante. Ele vem acompanhado de perda do interesse em coisas que antes a pessoa considerava prazerosas e também por sintomas corporais, como alterações do sono, do apetite, da energia. Predominam pensamentos negativos, de falência, morte, desesperança.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) colocou a depressão como a quarta maior causa de impacto entre todas as doenças no mundo. Estimativas recentes sobre o prejuízo econômico da depressão indicam que os custos anuais da doença superaram os US$ 83 bilhões nos EUA em 2000, a maior parte decorrente de dias parados e da perda de produtividade. O prejuízo ocupacional da depressão supera o de outras doenças crônicas. Como somente metade dos pacientes chega a ser diagnosticado corretamente, e destes uma boa parte não recebe tratamento adequado, os números podem estar bastante subestimados.

Como todo problema de saúde, o tratamento da depressão começa sempre por uma avaliação médica completa. Por meio da avaliação é possível verificar se existem outras doenças que podem se confundir com depressão. Diversas patologias têm sintomas semelhantes aos da depressão, como as doenças endócrinas (hipotireoidismo, obesidade), vários tipos de câncer e algumas doenças neurológicas.

Os medicamentos antidepressivos corrigem a neuroquímica da depressão, que envolve diversos neurotransmissores (noradrenalina, serotonina e dopamina). Os objetivos do tratamento farmacológico da depressão envolvem tanto a remissão total dos sintomas depressivos (a presença de resíduos depressivos favorece a recaída e a recorrência) como também a profilaxia das recaídas (tratamento de continuação) e das recorrências (tratamento de manutenção), e implicam no uso da medicação por longo prazo.

Em resumo, a depressão é um transtorno médico importante, freqüente e que compromete a saúde global. É mal diagnosticada e tratada em grande número de pacientes, com conseqüente prejuízo ocupacional, pessoal e da qualidade de vida. O treinamento para a correta identificação e tratamento da depressão é uma necessidade de Saúde Pública. O tratamento deve ser precoce, vigoroso e ter como objetivo a remissão completa dos sintomas. O tratamento deve continuar por longo período de tempo, para permitir a recuperação funcional do paciente e a ação neuronal dos medicamentos ser completa. A manutenção permanente com antidepressivos deve ser considerada em casos recorrentes e/ou episódios com gravidade muito grande. O uso continuado de antidepressivos não causa prejuízos. Ao contrário, há indícios de multiplicação neuronal associada ao uso prolongado dessas medicações.

CONSULTOR: Frederico Navas Demetrio, supervisor do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas.

Fonte: Jornal Estado de São Paulo
16/11/04