Foram ouvidas seis mil pessoas em todas as regiões do País. A pesquisa revela fatores do comportamento da população estudada que podem subsidiar as medidas preventivas e garantir a efetividade das intervenções no âmbito de saúde coletiva para a prevenção das infecções das doenças sexualmente transmissíveis e do HIV. O estudo foi dividido nos seguintes tópicos:
Práticas sexuais, uso e aquisição de preservativo ¿ De acordo com a pesquisa, 90% das pessoas de 15 a 54 anos de idade são sexualmente ativas e 81% foram sexualmente ativos no ano anterior à pesquisa. Quase 20% dos entrevistados relataram mais de 10 parceiros na vida. E 7% da faixa etária mais jovem (15 a 24) disseram ter tido mais de cinco parceiros eventuais no último ano.
A multiplicidade de parcerias (na vida ou no último ano) é um fenômeno tipicamente masculino: o percentual de mais de 5 parceiros eventuais no último ano entre as mulheres foi menor do que 1%.
Entre os pesquisados, a prática do sexo seguro está diretamente associada a quatro fatores: população masculina, de baixa faixa etária, com alto nível de escolaridade e pertencente a classes sociais mais favorecidas. O uso de preservativo na última relação sexual com parceiro eventual foi relatado por 74% dos entrevistados com idades entre 15 e 24 anos. E 59% dos indivíduos dessa faixa etária afirmaram que usam o preservativo regularmente com este tipo de parceria.
Esse resultado é ligeiramente superior ao encontrado no México (57%), similar ao da Índia (59%), mas menor que o da França (72%). É interessante notar que, na França, o uso regular de preservativo é maior entre as mulheres quando comparado ao uso pelos homens - ao contrário do Brasil, onde 41,4% das mulheres usam com parceiros eventuais e os homens chegam a 56,6%.
Com relação a classe socioeconômica, todos os indicadores relacionados ao uso de preservativo foram desfavoráveis aos indivíduos mais pobre. O uso regular de preservativo com parceiro eventual variou de 58%, na classe mais rica, a 48%, na mais pobre. O estudo demonstrou que as pessoas das classes A, B e C têm mais chances de usar preservativo do que as das classes D e E. Da mesma forma, os homens têm mais chance de uso do que as mulheres.
Entre os homens, 78% já compraram preservativo, enquanto que apenas 44% das mulheres disseram o mesmo. Metade da população masculina sexualmente ativa tem preservativo em casa. No grupo de mulheres com atividade sexual, o índice cai para 39%.
A pesquisa mostra que 52% dos entrevistados já receberam ou pegaram camisinha gratuitamente, a maioria deles em postos de saúde. Oitenta e um por cento do universo pesquisado disse que já ouviu falar do preservativo feminino. Esse produto foi usado por 4,3% das mulheres entrevistadas e 4,1% dos homens disseram já ter feito sexo com mulheres que usaram a camisinha feminina.
Espontaneamente, os entrevistados indicaram danceterias, bares, lojas de conveniência e bancas de jornal como locais em que gostariam de comprar o preservativo. Entre os itens considerados mais importantes pelos entrevistados na hora de adquirir a camisinha.
Populações vulneráveis ¿ Entre os participantes do sexo masculino de 15 a 49 anos, 3,5% relataram ter feito sexo com outros homens. A pesquisa revela que os HSH (homens que fazem sexo com outros homens) têm práticas sexuais mais vulneráveis. Mais de 41% deles, por exemplo, afirmaram ter tido mais de 10 parceiros durante a vida. Porém, os HSH fazem sexo protegido com mais freqüência. Todos os indicadores para esse grupo, independentemente do tipo de relação sexual (se eventual ou com parceiro fixo), apontam para um maior uso de preservativo, em relação aos homens heterossexuais.
Quanto ao uso de drogas injetáveis, 0,9% da população estudada relatou uso pelo menos uma vez na vida (1,4% para o sexo masculino e 0,4% para o sexo feminino). E ainda 0,2% dos entrevistados disseram que usam drogas injetáveis atualmente.
Chama atenção o grupo de pessoas que em alguma vez na vida cheirou cocaína. Elas têm, em geral, intensa atividade sexual e multiplicidade de parceiros, justamente os fatores mais relacionados ao não-uso do preservativo. Nesse grupo de indivíduos, os indicadores para a utilização da camisinha nas relações sexuais (eventuais ou com parceiro fixo) são menores que os encontrados entre as pessoas que nunca cheiraram cocaína.
Controle e prevenção das DST ¿ Entre mulheres com idades entre 15 e 54 anos, 62% fizeram exame ginecológico com preventivo, há menos de três anos. Entre as sexualmente ativas, o índice foi de 70%. Já entre as mulheres com ensino fundamental completo, a cobertura foi de 81%. Mas, entre as que têm o fundamental incompleto, o indicador caiu para 64%.
Os índices também variam de acordo com as regiões. No Norte, 51%, fez o exame. No Sudeste foram 79%. Chama atenção o fato que 29% das jovens brasileiras entre 15 a 24 anos, sexualmente ativas, nunca fizeram exame ginecológico. Entre os homens, 11% relataram pelo menos um episódio de corrimento uretral, na vida. Desses, 66% buscaram tratamento médico (38% no serviço público e 28%, no privado) e 24% foram diretamente a farmácias.
Conhecimento sobre as formas de transmissão do HIV ¿ Neste tópico, destaca-se que um percentual elevado da população brasileira (91%) cita espontaneamente a relação sexual como forma de transmissão do HIV. No grupo de indivíduos com ensino fundamental completo, o percentual alcança 97%. Para 85,3% dos entrevistados, o risco de contaminação pode ser reduzido se uma pessoa tiver relações sexuais com parceiro fiel e não infectado.
O índice de pessoas que sabem que o preservativo é uma forma de prevenir a infecção pelo HIV chega a 94%, superando os indicadores de Cuba (89%) e Colômbia (67%). No Brasil, 96% das pessoas concordam que usar preservativo é a melhor maneira de evitar a transmissão do HIV nas relações sexuais. Já o percentual de indivíduos que sabem que uma pessoa com aparência saudável pode estar infectada pelo vírus é de 92%, média também superior à alcançada por Cuba (91%) e pela Colômbia (82%).
Noventa por cento dos entrevistados sabem que a aids não tem cura. E 86% sabem que, além disso, o tratamento melhora a condição de vida de uma pessoa infectada pelo HIV, embora não consiga destruir o vírus.
Em relação ao indicador de conhecimento correto sobre as formas de transmissão, o percentual obtido na população brasileira foi de 67%, o maior valor encontrado entre os países com informações disponíveis. Na Índia, por exemplo, esse índice é de apenas 17%.
O resultado cai nas faixas etárias mais jovens, 15 a 24 anos, chegando a 62%. Entre as pessoas de 25 a 39 anos o percentual é o mais alto (71%). Esse dado sugere que é preciso incentivar ainda mais as escolas no sentido de desenvolver estratégias dirigidas aos jovens, antes do início da sua atividade sexual.
Testagem de HIV ¿ A pesquisa revela que 28% da população brasileira já fizeram o teste. O percentual é maior entre as mulheres na faixa de idade de 25 a 39 anos, por realizarem o teste no acompanhamento da gestação, no atendimento pré-natal. Porém, são verificadas diferenças por nível socioeconômico, para ambos os sexos. Por exemplo: 43% das mulheres da classe A/B já realizaram o teste de HIV. Nas de classe D/E, esse percentual cai para 28%.
Fonte: Programa Nacional de DST e Aids
24/11/04