A equipe do médico e patologista Aryon Barbosa, do Centro de Pesquisa Gonçalo Moniz (CPqGM), unidade da Fiocruz na Bahia, desenvolveu um método inédito para quantificar a melanina da pele.
A melanina é o pigmento que dá cor à pele.
O novo método consiste na análise da imagem de um pequeno fragmento de tecido cutâneo e no processamento dos dados por um software especial - ajudou a derrubar o mito de que negros não precisam se proteger do sol nem correm risco de desenvolver câncer de pele.
O trabalho foi aceito para publicação no próximo número do periódico científico Eletronic Journal of Pathology and Histology.
Já havia métodos bioquímicos para quantificar a melanina, mas nada semelhante à análise de imagem, mais rápida e menos invasiva. Os aparelhos usados na nova técnica também já existiam, só que foram ajustados para uma finalidade diferente. "Prepara-se uma lâmina com a amostra de pele, examina-se ao microscópio e a imagem gerada me permite dizer com segurança qual o conteúdo de melanina e, conseqüentemente, a cor da pele daquela pessoa", explica Barbosa. O patologista, no entanto, ressalta os aspectos éticos para a utilização do método. "Não se trata de usar fragmentos de pele para discriminar as pessoas pela sua cor. Isto seria criminoso e inaceitável. Determinar com precisão o conteúdo de melanina e a cor da pele de alguém só tem utilidade pública porque permite avaliar a propensão a doenças entre as populações", sublinha.
A pele mais escura apresenta um conteúdo maior de melanina. Este pigmento é conhecido como um potente filtro contra a radiação ultravioleta do sol, que pode levar ao câncer de pele porque causa estresse oxidativo, supressão da resposta imune celular e, principalmente, danos ao DNA. Por isso, quem tem pele clara estaria mais sujeito à doença. O carcinoma basocelular é o câncer de pele mais comum. Em geral, ele é benigno, mas, às vezes, evolui de forma mais agressiva: destrói tecidos próximos ou até se dissemina pelo organismo.
Com a técnica de análise de imagem, Barbosa analisou amostras de pele de 543 indivíduos com carcinoma basocelular. A melanina foi quantificada em pequenos fragmentos que haviam sido retirados de áreas saudáveis vizinhas à lesão cancerosa. Como já esperado, a grande maioria das amostras (90,7%) era de pele branca. Contudo, também foram identificadas amostras de pele mulata e negra (9,3%). "Esse achado prova que, embora o carcinoma basocelular seja mais comum em brancos, ele também atinge quem tem pele escura. Isso significa que todos, sem exceção, precisam se proteger dos efeitos nocivos do sol", alerta o patologista.
Fonte: Fundação Oswaldo Cruz
21/12/2004