A expectativa é que em menos de dois meses o produto comece a ser distribuído pela Coordenação-Geral de Laboratórios em Saúde Pública, órgão do Ministério da Saúde (MS). Além de mais barato do que os kits comerciais importados utilizados atualmente, o produto nacional tem a vantagem de ser mais preciso. Isto porque as proteínas usadas no novo teste foram produzidas a partir do material genético de cepas virais que circulam no Brasil.
"Nosso kit é em média 17% mais sensível no diagnóstico de IgG [anticorpo presente em uma fase mais tardia da doença] em comparação ao comercial Focus, de origem americana. Também apresenta maior sensibilidade e especificidade na determinação de IgM [anticorpo característico de infecção recente], além de ser mais rápido (produz resultados em duas horas) e mais simples de ser manejado", explica a pesquisadora do IBMP Cláudia Nunes Duarte dos Santos, responsável pelo desenvolvimento do teste.
O primeiro passo do estudo foi caracterizar geneticamente as cepas de hantavírus (vírus que causam a hantavirose) que circulam no território nacional. A partir destes genomas, por meio da tecnologia de DNA recombinante ou engenharia genética, a equipe produziu uma proteína do vírus usada no kit brasileiro para capturar anticorpos presentes nas amostras de sangue dos pacientes. Os testes importados também usam proteínas como "iscas" para "pescar" anticorpos. No entanto, as mesmas são produzidas a partir do material genético de vírus que circulam na América do Norte, Europa ou Argentina, o que pode deixá-las menos precisas na captura de anticorpos produzidos contra os vírus que circulam no país.
Além de identificar anticorpos produzidos em todas as fases da doença nos seres humanos, o kit também detecta o vírus em seus reservatórios naturais, os roedores silvestres. A transmissão da hantavirose ocorre com a inalação do vírus presente na urina e nas fezes destes animais, pela mordida dos roedores infectados, pelo contato da pele ferida com excretos ou pelo contato da mão suja de fezes ou urina de rato com a boca. Os sintomas iniciais da doença são facilmente confundidos com os de outras doenças infecciosas que co-circulam no Brasil, como os do dengue ou da gripe, por isso, muitas vezes o paciente retorna ao posto de saúde já em uma fase aguda da doença. A identificação de roedores silvestres portadores do vírus é fundamental para o controle epidemiológico da hantavirose.
Testado pelas três instituições públicas de referência no diagnóstico de hantavirose no país - o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, o Instituto Evandro Chagas, em Belém, e a Fiocruz, no Rio de Janeiro - o novo kit obteve excelentes resultados com amostras do Brasil e com um painel de 20 amostras de soro de pacientes da Argentina e do Uruguai. Os pesquisadores do IBMP estão produzindo kits para serem distribuídos pelo MS aos laboratórios de referência brasileiros. Segundo Claudia, os kits nacionais terão aproximadamente a metade do custo do produto americano.
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
13/09/2005