Dores na cabeça, no corpo e febre alta. Foram os sintomas que preocuparam Eudes Monte dos Santos e Maria Luzenilda Freitas dos Santos e os levaram a internar a filha Najla Freitas Batista dos Santos, 11 anos, na noite da sexta-feira passada. No sábado, às 21h, a garota morreu, quando estava prestes a entrar na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), do Hospital de Base de Brasília (HBB). A causa: meningite meningococcemia . Familiares da garota acreditam que Najla pegou a doença na escola. Há suspeita de que outro aluno do Centro de Ensino Fundamental 7, de Ceilândia, teria falecido na última semana com a mesma doença. A Secretaria de Saúde não confirmou esse caso. Mas, o subsecretário de Atenção a Saúde, Evandro Oliveira da Silva, afirmou que hoje pela manhã vai investigar a ocorrência de outras suspeitas da doença.
Najla foi enterrada na tarde de ontem, no Cemitério de Taguatinga. Familiares e amigos procuram entender o que aconteceu. "Na quarta-feira estive com ela. Eu a abençoei, ela estava bem. Não dá para entender como uma doença faz isso tão rápido. Estamos preocupados em saber se mais alguma criança, ou familiares correm risco", afirma Amarélio Júnior, 29 anos, tio da vítima. Najla teve uma manhã normal na quinta-feira. Compareceu ao curso de espanhol no Centro Interescolar de Línguas de Ceilândia (Cilt), almoçou em casa e foi para a escola na companhia da mãe. "Ela estava ótima, não se queixou de nada, fomos caminhando e conversamos como sempre", contou a professora Maria Luzenilda, 37 anos, mãe da garota. Às 18h, ao sair da escola, Najla avisou que estava com febre e dores no corpo.
"Quando ela chegou em casa, medimos a temperatura e estava muito alta. Corremos para o hospital", lembra Eudes. Os três foram direto para o Hospital Universitário de Brasília (HUB). Segundo os pais, Najla ficou internada durante toda a noite e na manhã seguinte foi submetida a uma bateria de exames. "Os médicos fizeram de tudo por ela. Todos os exames que se pode imaginar. Mas, às 13h, nos informaram que ela precisava ser transferida para uma UTI em outro hospital. Ficamos desesperados", lembra.
A família passou então a buscar uma ambulância equipada para transportar a garota. "Foi um sofrimento, não havia nenhuma equipe nos hospitais que pudesse fazer o transporte com segurança. Tivemos que pagar por uma e só conseguimos isso depois das 18h", lembra o pai.
A menina foi transferida para o Hospital de Base (HBDF), mas morreu antes de chegar à UTI. A certidão de óbito aponta a meningococcemia como uma das causas da morte, além de parada respiratória e choque séptico. A meningococcemia é uma infecção causada pela bactéria meningococo. Se a infecção atinge o organismo pode haver três conseqüências. Uma é a meningite isolada, que é a infecção das membranas que envolvem o cérebro. Outra, o acometimento das membranas seguido de generalização da infecção. E, por último, situações em que a doença poupa a meninge mas atinge outros órgãos. No caso de Najla, houve inflamação generalizada.
Medo
Especialistas apontam que a única maneira de contrair a doença é manter contato com pessoas que têm a infecção ou a bactéria no organismo. O contágio se dá por meio da secreção respiratória, gotículas de saliva, espirro, tosse. Nos hospitais, durante o tratamento, os pacientes são isolados. Os familiares de Najla, receberam orientação médica para ingerir o medicamento Rifampicina, como forma de prevenção. "Nós compramos o remédio e já fizemos o uso. Mas, se outras crianças da escola tiveram o mesmo contato? Elas não serão medicadas?", preocupa-se o pai.
Segundo o subsecretário de saúde, Evandro de Oliveira, a bactéria é mais resistente a ambientes hospitalares e, por isso, os familiares que estiveram com ela foram orientados a tomar a medicação. "Dificilmente a bactéria resiste em ambientes abertos, como na escola, por exemplo. Não há motivo para alarmar a população. Mas, vamos tomar todas as medidas necessárias amanhã (hoje). Se tiver que ser feita a imunização de todas as crianças faremos", afirmou.
Janaina Beatriz Enéas, 28 anos, tia de Najla, levou o filho de seis anos para fazer exame de sangue. "Ele esteve em contato com ela. Isso é motivo de preocupação. Se ficar confirmado que outras crianças da mesma escola contraíram a mesma doença, pode ser um surto. A Secretaria de Saúde tem que fazer alguma coisa", disse. A direção do Hospital Regional de Ceilândia, confirmou na tarde de ontem, que na última semana, foi registrado um caso de meningite no HRC, mas que o paciente foi transferido.
Fonte:Correio Braziliense
20/03/2006