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A vida depois da obesidade






Na maioria dos casos, é uma vida sufocada por preconceitos e privações. O excesso de peso não se adapta ao esguio espaço social: calças, vestidos, poltronas, tudo parece curto, pequeno, apertado demais. Abandonar uma silhueta de proporções superlativas requer mais do que a disposição em se submeter à famosa cirurgia bariátrica ou de redução de estômago. Isso porque o corpo e a vida mudam muito, mas em determinadas situações a mente não acompanha essa transformação.

Magro. E agora?, nome com o qual o psicólogo Francisco Carlos Gomes batizou sua tese de mestrado na Pontíficia Universidade Católica (PUC) de São Paulo e o livro lançado no fim do ano passado, é o resultado de 15 anos de estudo. Nesse período, Gomes conviveu com os conflitos de quem sempre enfrentou as frustrações por conta da obesidade e, por fim, encarou a cirurgia bariátrica. "Por fim" é apenas força de expressão nesse caso. Enxergar-se magro e perder algumas dezenas de quilos é, na verdade, o início de uma jornada que pede um acompanhamento psicológico fundamental para a qualidade de vida.

Entre clínicos, cirurgiões e nutricionistas, o psicólogo deverá preparar as emoções do indivíduo, antes e depois da operação, esclarecer as dúvidas quanto ao tratamento, orientar o novo dia-a-dia e ensiná-lo a viver com menos da metade do peso. "A fantasia do paciente é a de que se ele for magro, será feliz", explica Francisco Gomes.

Quem enfrentou o bisturi para se livrar do binômio obesidade/sofrimento diz a quem quiser ouvir que as mudanças são sempre para melhor. E o universo é bastante considerável: no Brasil, cerca de 20 mil pessoas, por ano, realizam a cirurgia bariátrica. Mas é fundamental que a cabeça esteja preparada para conviver com o corpo magro, e muitos ex-obesos não estão. "Normalmente eles têm uma dificuldade muito grande de enfrentar a realidade. E a comida costuma ser uma fuga dessa tensão", avalia a psicóloga Virgínia Célia Oliveira, integrante da equipe de prevenção e controle da obesidade, do Hospital Geral de Goiânia.

Na prática, isso significa o seguinte: depois da operação, com o estômago reduzido, esses ansiosos compulsivos por comida não podem mais descontar angústias e medos no prato. E têm de aprender a lidar com os sentimentos de uma outra forma. "O papel do psicólogo é orientar o paciente. Se a comida antes minimizava a ansiedade, agora ele precisa mudar o comportamento", explica Virgínia.

É por isso que surge, daí, uma preocupação extensiva com o diagnóstico psicológico dos candidatos a uma radical perda de peso. Cada equipe médica adota um método próprio, mas o ideal é que o paciente só seja liberado para a operação depois de uma avaliação psicológica. "A população que tem obesidade mórbida é aquela que mais sofre com problemas psicossociais", define o cirurgião Orlando Farias, médico titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica. Dos candidatos à cirurgia que passam pelo seu consultório, 80% apresentam sintomas de depressão.

Apagar o passado

Uma vez seguros e bem informados sobre a técnica e os resultados da gastroplastia, é hora de domar as expectativas. A primeira é saber que ninguém emagrece num estalar de dedos - nem quem faz cirurgia. A outra é perceber que perder peso não será a solução para todos os problemas. "A expectativa geralmente é muito alta, e isso é um grande perigo. Há quem busque resolver dilemas conjugais, de relacionamento com os amigos e até questões profissionais com a cirurgia", critica Maria Salete Arenales-Loli, mestre em psicologia clínica dos aspectos emocionais da obesidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

"Aplicamos teste de personalidade, verificamos o nível de ansiedade, a tendência a substituir compulsões, e se a pessoa tem o apoio da família", enumera a psicóloga Andrea de Castro, da equipe Gastromed, do Hospital Brasília. "Quanto mais disposto a se submeter às novas regras, melhor o resultado." A explicação é simples: o desequilíbrio emocional torna os pacientes sérios candidatos a não seguirem à risca as orientações e limitações impostas pela redução do estômago. Pior: estão mais vulneráveis a substituir a obsessão pela comida por outras como álcool, sexo e compras.

A transformação na rotina é tanta que a terapia no pós-operatório acaba tornando-se extremamente indicada. Com o novo corpo, costuma vir o primeiro namorado, a primeira relação sexual e até o primeiro emprego. Boa parte dos pacientes tinha vergonha de se relacionar e escondia-se em casa para não ter de enfrentar socialmente a obesidade. Depois de magros, isso tende a mudar. "Antes da cirurgia, é comum a pessoa colocar a responsabilidade de tudo o que acontece de ruim na obesidade. Depois, ela passa a não ter mais essa desculpa. Precisa encarar a realidade e entender que não é o novo corpo que a livrará de todas as dificuldades", analisa o cirurgião Arthur Garrido, um dos pioneiros a realizar a cirurgia bariátrica no Brasil, ainda na década de 70, quando as técnicas eram incipientes e nem se falava em acompanhamento psicológico para os recém-operados.

Para quase todos os ex-obesos, a mudança de qualidade de vida e a injeção de auto-estima são os maiores benefícios da cirurgia. Ainda assim, eles precisam equilibrar as emoções. Felicidade demais, às vezes, precisa de limites. Alguns, ao se sentirem mais seguros e mais bonitos, enfrentam os ciúmes do companheiro. Outros descobrem que podem investir em outras relações e se separam. "A imensa maioria se sente muito melhor do que antes. No momento em que eles começam a mudar, se esquecem que um dia foram obesos. É como se nunca tivessem sido", observa Arthur Garrido.

APAGAR O PASSADO

Uma vez seguros e bem informados sobre a técnica e os resultados da gastroplastia, é hora de domar as expectativas. A primeira é saber que ninguém emagrece num estalar de dedos - nem quem faz cirurgia. A outra é perceber que perder peso não será a solução para todos os problemas. "A expectativa geralmente é muito alta, e isso é um grande perigo. Há quem busque resolver dilemas conjugais, de relacionamento com os amigos e até questões profissionais com a cirurgia", critica Maria Salete Arenales-Loli, mestre em psicologia clínica dos aspectos emocionais da obesidade pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

"Aplicamos teste de personalidade, verificamos o nível de ansiedade, a tendência a substituir compulsões, e se a pessoa tem o apoio da família", enumera a psicóloga Andrea de Castro, da equipe Gastromed, do Hospital Brasília. "Quanto mais disposto a se submeter às novas regras, melhor o resultado." A explicação é simples: o desequilíbrio emocional torna os pacientes sérios candidatos a não seguirem à risca as orientações e limitações impostas pela redução do estômago. Pior: estão mais vulneráveis a substituir a obsessão pela comida por outras como álcool, sexo e compras.

A transformação na rotina é tanta que a terapia no pós-operatório acaba tornando-se extremamente indicada. Com o novo corpo, costuma vir o primeiro namorado, a primeira relação sexual e até o primeiro emprego. Boa parte dos pacientes tinha vergonha de se relacionar e escondia-se em casa para não ter de enfrentar socialmente a obesidade. Depois de magros, isso tende a mudar. "Antes da cirurgia, é comum a pessoa colocar a responsabilidade de tudo o que acontece de ruim na obesidade. Depois, ela passa a não ter mais essa desculpa. Precisa encarar a realidade e entender que não é o novo corpo que a livrará de todas as dificuldades", analisa o cirurgião Arthur Garrido, um dos pioneiros a realizar a cirurgia bariátrica no Brasil, ainda na década de 70, quando as técnicas eram incipientes e nem se falava em acompanhamento psicológico para os recém-operados.

Para quase todos os ex-obesos, a mudança de qualidade de vida e a injeção de auto-estima são os maiores benefícios da cirurgia. Ainda assim, eles precisam equilibrar as emoções. Felicidade demais, às vezes, precisa de limites. Alguns, ao se sentirem mais seguros e mais bonitos, enfrentam os ciúmes do companheiro. Outros descobrem que podem investir em outras relações e se separam. "A imensa maioria se sente muito melhor do que antes. No momento em que eles começam a mudar, se esquecem que um dia foram obesos. É como se nunca tivessem sido", observa Arthur Garrido.

NEM TODOS PODEM FAZER

Apesar de os benefícios, a cirurgia bariátrica não é indicada para todos os casos de obesidade. São candidatos a esse tratamento aqueles que sofrem da chamada obesidade mórbida - definida pelo Índice de Massa Corpórea (IMC = peso / altura x altura) igual ou superior a 40 Kg/m² -, especialmente quando já se submeteram a tratamentos clínicos e não obtiveram resultados. Os obesos que têm IMC entre 35kg/m² e 40kg/m² e apresentam doenças associadas ao excesso de peso também podem receber a indicação da cirurgia.

Fonte: Correio Braziliense
26/05/2006

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