Os sintomas eram de gripe. Mas, passada uma semana, a febre não dava trégua e Kaleb, 10 meses, começou a tossir sem parar. Preocupada, a mãe do menino, a dona-de-casa Laura da Conceição Gomes Santos, 41 anos, procurou o Hospital Regional do Guará. Assim que a médica analisou o resultado do exame de raios X, encaminhou Kaleb para a internação. "Ela disse que tinha mancha no pulmãozinho dele. Fiquei desesperada porque não sabia a gravidade do caso", lembra. Kaleb teve pneumonia e só voltou para casa na sexta-feira, depois de nove dias de internação.
Crianças são as principais vítimas da doença. Somente no Hospital Regional do Gama (HRG), 15 estão internadas com pneumonia. Dados da Secretaria de Saúde do Distrito Federal mostram que, em 2005, 9.015 pessoas foram internadas com a doença e 396 morreram. Em 2006, o número de crianças e adultos com pneumonia aumentou em junho e julho em relação aos outros meses dos ano. No entanto, o coordenador de Pneumologia da Secretaria de Saúde, Paulo Feitosa, não soube informar quantos são os casos, e se houve crescimento em relação aLo mesmo período do ano passado. "O inverno ainda não acabou e só fecharemos a estatística daqui a seis meses", informa.
A pneumonia é um processo inflamatório das vias aéreas inferiores - brônquios, bronquíolos, alvéolos (veja arte) -, provocada por cerca de oito bactérias diferentes. A transmissão da doença se dá por via respiratória e sangüínea. Apesar de ser comum as pessoas associarem a pneumonia à gripe, nem sempre as duas caminham juntas. O professor de pneumologia da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Martins alerta que a pessoa pode não apresentar quadro de gripe e receber diagnóstico de pneumonia.
Apesar do aumento do número de casos estar associado à estação seca e fria do inverno, Ricardo Martins esclarece que não existe dado estatístico no DF que comprove essa tese. "Há, sim, um aumento nos casos de infecções respiratórias que reduzem a imunidade do organismo e facilitam os quadros de pneumonia", esclarece o médico.
O Correio apurou que 36 pessoas - crianças e adultos - estavam internadas com pneumonia na última semana nos hospitais do Gama, Guará, Prontonorte e Hospital Universitário de Brasília (HUB). Em pelo menos 10 outros hospitais, entre públicos e privados, os responsáveis disseram não ter o levantamento porque a doença não está entre as que são obrigatoriamente notificadas.
Apesar de existir vacina contra a pneumonia provocada pela bactéria penumococo - a de maior incidência entre a população -, ela não é oferecida pela rede pública de saúde. "Não vejo a necessidade de colocar essa vacina no calendário oficial. A criança só precisa ser vacinada se tiver doenças crônicas que justifiquem a imunização, mas aí o médico avalia. Se a família não tiver condições de pagar, ela recorre à Secretaria de Saúde que é obrigada a oferecer o medicamento", argumenta Paulo Feitosa.
Bactéria pode levar à morte
A pneumonia pode ser causada por diferentes tipos de microrganismos, mas o mais comum é uma bactéria chamada Streptococcus pneumoniae, também conhecida com pneumococo. O tipo de infecção e a gravidade dependem da idade, estado nutricional, presença de outras doenças como diabetes melito, alcoolismo ou derrame.
Os sintomas clássicos são: febre com calafrios, tosse com expectoração, falta de ar, dor torácica, inapetência e acometimento do estado geral. O escarro pode ter o aspecto purulento e não raro exibir raias de sangue. O tratamento é feito com um ou mais antibióticos. A febre diminui e a disposição e o apetite melhoram depois de alguns dias de tratamento. Dependendo da gravidade, é necessário internação em unidade de terapia intensiva, ventilação artificial e monitorização dos sinais vitais. Mesmo com todos esses cuidados, a mortalidade é alta em alguns casos de pneumonia.
Fonte: Correio Braziliense
19/07/2006