Mulheres acabam de ganhar mais um aliado para evitar a gravidez indesejada. Na última semana, o Conselho Federal de Medicina, em Brasília, publicou resolução liberando médicos a indicarem para suas pacientes o uso da pílula do dia seguinte. Embora o remédio já seja utilizado, desde 2002, no país, a decisão do CFM pode levar um número maior de mulheres a se beneficiar do método. É que alguns profissionais ainda se recusavam a prescrever o comprimido, por medo de ferir a ética. A partir da resolução, o CFM conclui que a pílula não é abortiva e pode ser prescrita em qualquer fase da vida reprodutiva, inclusive para adolescentes.
A pílula do dia seguinte é um anticoncepcional de emergência. Atua no organismo impedindo a concepção, ou seja, o encontro do espermatozóide com o óvulo. A diferença em relação aos outros métodos contraceptivos é que a pílula do dia seguinte é a única usada após a relação sexual. As camisinhas masculina e feminina, o DIU, o diafragma e a pílula comum evitam a gravidez atuando antes ou durante a penetração (ver arte).
O mecanismo de funcionamento é simples. A pílula do dia seguinte é como um anticoncepcional hormonal comum (pílula convencional), mas em dose mais forte, para ser usada por um período curto de tempo. A mulher tem a relação sexual e toma o remédio
«O ideal é que a pílula do dia seguinte seja consumida imediatamente após a relação», diz o ginecologista Antônio Eugênio Motta Ferrari, da Unimed. Ele afirma que a eficiência do remédio vai diminuindo com o passar do tempo e, 72 horas depois do ato sexual, o efeito do medicamento é desprezível - ou seja, as chances de uma gravidez são bem maiores.
A eficácia da pílula do dia seguinte também está ligada à fase do ciclo menstrual da mulher. Se o comprimido é tomado antes da ovulação acontecer, ele adia ou evita a liberação do óvulo. Assim, os espermatozóides lançados no corpo da mulher morrem antes de «encontrar» o óvulo, e a fecundação não acontece.
Se o coito se dá após a ovulação, a pílula do dia seguinte provoca uma alteração química no organismo feminino que impede a movimentação do espermatozóide e do óvulo, um em direção ao outro. Além disso, o remédio modifica o muco cervical, diminuindo a sobrevivência do espermatozóide no corpo da mulher.
De uma forma ou de outra, a pílula do dia seguinte evita a concepção. Por isso, não foi considerada abortiva pelo CFM. «A resolução foi feita para tranqüilizar a classe médica quanto a isso», diz a ginecologista e membro do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais (CRMMG), Vera Helena Cerávolo de Oliveira. «E, após muitas discussões, a conclusão é que a vida só começa depois do encontro do espermatozóide com o óvulo, o que não chega a acontecer com o uso da pílula», diz.
Para a conselheira, a pílula do dia seguinte representa um avanço porque diminui o número de gestações indesejadas, especialmente em adolescentes, fazendo cair a ocorrência de abortos clandestinos. Outra questão é que a pílula ajuda a evitar a gravidez em caso de estupro. Mas, para isso, as vítimas devem ser informadas e ter acesso ao método em serviços de saúde, postos de polícia e departamentos de medicina legal, locais onde buscam socorro após a violência.
Medicamento só deve ser usado em casos emergenciais
Apesar dos bons resultados, a pílula do dia seguinte só deve ser usada em casos emergenciais. Uma das situações é a relação sexual sem proteção contra a gravidez. A outra indicação é quando o método contraceptivo usado pelo casal falha - se o diafragma sai do lugar ou a camisinha estoura, por exemplo. Alguns estudos indicam que, se consumido até 12 horas após o ato sexual, a eficácia do remédio é de 90%.
«A pílula do dia seguinte é exceção, não a rotina», avisa a ginecologista Vera de Oliveira. Significa que a mulher não deve manter relações sexuais e, depois de cada uma delas, recorrer ao medicamento de emergência. «Se isso acontecer, o ciclo menstrual da paciente pode ficar desregulado, o que vai dificultar o controle da ovulação e facilitar uma gravidez no futuro».
O ginecologista Antônio Ferrari também defende que a pílula do dia seguinte não seja usada de forma recorrente. «Ela evita a gravidez no último momento, mas é o método contraceptivo com maior chance de falha», diz.
Aline Alves, 18 anos, usou com sucesso a pílula do dia seguinte. O remédio foi a solução todas as vezes em que a camisinha rompeu durante a relação sexual. Mas, em 2006, Aline foi traída pelo prazo da pílula. Transou com o namorado, sem proteção, e só usou o medicamento quase 72 horas depois. Engravidou e, hoje, é mãe de um bebê de cinco meses.
Por isso, o recomendado é que as mulheres procurem um ginecologista no dia seguinte ao ato sexual desprotegido e só comprem o remédio por indicação médica. O profissional vai prescrever a pílula de emergência e avaliar o histórico da paciente para indicar um contraceptivo que possa ser usado no dia-a-dia.
O médico Antônio Ferrari lembra que a pílula do dia seguinte evita a gravidez causada por um ato sexual que já aconteceu, mas não previne a gestação provocada por coitos futuros.
Com relação aos efeitos colaterais, os médicos dizem que as pílulas à base de um só hormônio - progesterona - provocam poucas reações adversas, mas podem acontecer náuseas, enjôos e inchaços.
Evite a gravidez, confira alguns dos métodos contraceptivos:
Diafragma - Espécie de concha de borracha fina, que a mulher coloca na vagina para cobrir o colo do útero. Deve ser utilizado sempre com um creme ou geléia espermicida. Não interfere no ciclo menstrual e raramente provoca efeitos colaterais. Não protege das DST/Aids.
Camisinha masculina ou preservativo - É uma capa de borracha bem fina, flexível e resistente que, colocada no pênis, retém o sêmen quando o homem ejacula. Se colocada da forma correta, dificilmente fura. Não tem efeitos colaterais e pode ser comprada sem receita médica. É o único método anticoncepcional que serve também para prevenir as DST/Aids.
Camisinha feminina - É um canudo de borracha fina, de mais ou menos
Espermicidas - São cremes ou geléias feitos com substâncias químicas que, quando colocados na vagina, matam ou imobilizam os espermatozóides. Não se recomenda o seu uso isolado porque têm alto índice de falhas e não protegem das DST/Aids.
Tabelinha - Método que permite conhecer o ciclo menstrual e localizar os dias do «período fértil», para evitar ter relações sexuais nesse período. Não é indicado para mulheres com ciclo menstrual irregular, ou adolescentes. Não protege das DST/Aids.
Método do muco - O muco é uma secreção vaginal que, às vezes, pode ser vista na calcinha ou no papel higiênico. Suas variações permitem identificar o período fértil da mulher. É um método que exige rigorosa observação para se aprender a diferenciar os diferentes tipos de muco. Não protege das DST/Aids.
Pílula anticoncepcional - São comprimidos feitos com hormônios não naturais, que interferem no equilíbrio hormonal do corpo, impedindo que a ovulação ocorra. É um método hormonal e exige indicação e acompanhamento médicos. Tem alto grau de eficácia na prevenção da gravidez, mas não protege contra as DST/Aids
D.I.U. - É um pequeno objeto de plástico e cobre, com um fio de náilon na ponta, que é colocado no interior do útero. Ele altera a acidez do útero e dificulta a sobrevivência dos espermatozóides. Há vários modelos, com formatos e tamanhos diferentes. Não é recomendado para adolescentes ou mulheres que nunca engravidaram. Não protege contra as DST/Aids.
Laqueadura - É uma cirurgia feita na mulher para evitar definitivamente a concepção. A paciente deve estar segura da decisão de não ter mais filhos, pois a chance de reversão da cirurgia é mínima. A mulher que faz laqueadura não está protegida contra as DST/Aids.
Vasectomia - É uma cirurgia que corta ou bloqueia os canais que levam os espermatozóides dos testículos até o pênis. É uma intervenção rápida, feita com anestesia local. Não provoca a impotência nem afeta o desejo sexual do homem. A vasectomia não protege contra as DST/Aids.
Fonte: CRMMG